segunda-feira, 30 de março de 2009

Eurico, o presbitero.

Eurico, o Presbítero é um romance histórico de Alexadre Herculano datado de 1844, fala a respeito do fim do Império Godo na região que actualmente compreende a Espanha, diante da conquista dos muçulmanos que avançaram pela maior parte da Península Ibérica.
O enredo conta a história de amor entre Eurico e Hermengarda, que se passa na Espanha visigótica do século VIII. Eurico e seu amigo, Teodomiro, lutam ao lado do imperador da Espanha, Vitiza, contra os "montanheses rebeldes e contra a francos, seus aliados". Depois de vencer o combate, Eurico pede ao Duque de Fávila a mão de sua filha, Hermengarda, porém este recusa o pedido ao saber que se trata de um homem de origens humildes.
Eurico, então, se entrega à religiosidade, tornando-se o Presbítero de Cartéia, para se afastar das lembranças de Hermengarda, através das funções religiosas e da composição de poemas e hinos religiosos.
No entanto, quando ele descobre que os árabes estão invadindo a Península Ibérica, liderados por Tarrique, alerta seu amigo Teodomiro e se transforma no enigmático Cavaleiro Negro. De maneira heróica, Eurico, agora Cavaleiro Negro, luta em defesa de sua terra e, devido a seu ímpeto, ganha a admiração dos Godos e lhes dá forças para combater o invasor.
Quando a vitória parece certa para os Godos, Sisibuto e Ebas, filhos do imperador Vitiza, traem seu povo, a fim de ganhar o trono espanhol. Logo após, Roderico
, rei dos Godos, morre em batalha e o povo passa a ser liderado por Teodomiro. Enquanto isso, os árabes invadem o Mosteiro da Virgem Dolosa e raptam Hermengarda. O Cavaleiro Negro a salva quando o "amir" estava prestes a profaná-la. Durante a fuga, Hermengarda é levada até as Astúrias, onde está seu irmão Pelágio.
Em segurança numa gruta
, Hermengarda encontra Eurico e declara seu amor por ele. Contudo, Eurico não acredita que esse amor possa se concretizar, devido às suas convicções religiosas, e revela a real identidade do Cavaleiro Negro. Ao saber disso, Hermengarda perde a razão e Eurico, ciente de suas obrigações, parte para um combate suicida contra os árabes.

Alexandre Herculano

Alexandre Herculano nasceu em Lisboa, em 28 de Março de 1810 numa modesta família de origem popular. A sua infância e adolescência não pode ter deixado de ser profundamente marcado pelos dramáticos acontecimentos da sua época: as invasões francesas, o domínio inglês e o influxo das ideias liberais. Até aos 15 anos frequentou o Colégio dos Padres Oratorianos de S. Filipe de Néry, então instalados no Convento das Necessidades em Lisboa, onde recebeu uma formação de índole essencialmente clássica, mas aberta às novas ideias científicas. Impedido de prosseguir estudos universitários ficou disponível para adquirir uma sólida formação literária que passou pelo estudo de inglês, francês, italiano e alemão, línguas que foram decisivas para a sua obra literária. Alistado como soldado no Regimento dos Voluntários da Rainha, como Garrett, é um dos 7 500 "Bravos do Mindelo", assim designados por terem integrado a expedição militar comandada por D. Pedro IV que desembarcou, a fim de cercar e tomar a cidade do Porto. Como soldado, participou em acções de elevado risco e mérito militar. Foi nomeado segundo bibliotecário da Biblioteca do Porto. Aí permanceu até ter sido convidado a dirigir a Revista Panorama, revista de carácter artístico e científico de que era proprietária a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, de que foi redactor principal duarante 2 anos. Em 1842 retomou o papel de redactor principal e publicou o Eurico o Presbítero, obra maior do Romance Histórico em Portugal no século XIX. Mas a obra que vai transformar Alexandre Herculano no maior português do século XIX é a sua História de Portugal. Recusou honrarias e condecorações e, a par da sua obra literária e científica, de que nunca se afastou inteiramente, preferiu retirar-se progressivamente para um exílio que tinha tanto de vocação como de desilusão. Numa carta a Almeida Garrett confessára ser seu mais íntimo desejo ver-se entre quatro serras, dispondo de algumas leiras próprias, umas botas grosseiras e um chapéu de Braga. Na verdade, este homem frágil e pequeno, mas dono de uma energia e de um carácter inquebrantáveis era um exemplo de fidelidade a ideais e a valores que contrastavam com o pântano da vida pública portuguesa. Devido à sua débil saúde contraiu uma pneumonia dupla de que viria a falecer, em Vale de Lobos, em 13 de Setembro de 1877.

terça-feira, 10 de março de 2009

"Menina e Moça" de Bernardim Ribeiro

"Menina e moça me levaram de casa de minha mãe para muito longe. Que causa fosse então a daquela minha levada, era ainda pequena, não a soube. Agora não lhe ponho outra, senão que parece que já então havia de ser o que depois foi. Vivi ali tanto tempo quanto foi necessário para não poder viver em outra parte. Muito contente fui em aquela terra, mas, coitada de mim, que em breve espaço se mudou tudo aquilo que em longo tempo se buscou e para longo tempo se buscava. Grande desaventura foi a que me fez ser triste ou, per aventura, a que me fez ser leda. Depois que eu vi tantas cousas trocadas por outras, e o prazer feito mágoa maior, a tanta tristeza cheguei que mais me pesava do bem que tive, que do mal que tinha."

Início de Menina e Moça.

A sua obra resume-se a doze composições insertas no Cancioneiro Geral (colecção de poemas), cinco éclogas, a sextina "Ontem pôs-se o Sol", a novela Menina e Moça e o romance "Ao longo de uma ribeira", única composição portuguesa inserida no Cancioneiro Castelhano de 1550, só apareceu publicado com as obras completas do poeta na edição de 1645.
Sob o título Trovas de dous pastores, foi feita, em 1536
, a primeira impressão de uma écloga (a de Silvestre e Amador). Menina e Moça é editada sob o título de História de Menina e Moça. Na segunda edição, de 1557-58, em Évora, com o título de Saudades e a terceira realizada em Colónia a partir da primeira edição.

O texto representa uma convergência de tópicos ficcionais, quer no plano da história literária (agregando ingredientes da novela de cavalaria, do romance pastoril e da novela sentimental), quer no plano do conteúdo (pela conversão a um lugar de encontro, feminino e lamentoso, da Menina - que inicia o livro com um monólogo de evocação de deslocação e de mudança de vida - com uma Senhora, com a qual discute histórias de amores infelizes, que se intercalam na acção central da ficção).

Lugar e mudança convertem-se em pólos de uma comum nostalgia amorosa e do fatalismo do sofrimento, que fazem das histórias intercaladas, ex. Aónia e Bimuarder, Arima e Avalor, desdobramentos insistentes de uma mesma e infinita dor de constantes desencontros amorosos. Amor, natureza, mudança e distância são as constantes semânticas deste livro, o primeiro na literatura portuguesa a desprender-se relativamente das convenções da ficção coeva para assumir o estatuto de narrativa feminina da solidão e da saudade, e de texto de análise incisiva e minuciosa do sentimento amoroso, na sua faceta de consagração dedicada e dolorida.

Bernardim Ribeiro

Bernardim Ribeiro foi um escritor português renascentista.
Da sua vida, praticamente, nada se sabe ao certo. Presume-se que nasceu por volta de 1482. Não se conseguiu ainda provar que este poeta Bernardim Ribeiro e um seu homónimo que frequentou, entre 1507 e 1511, a Universidade de Lisboa, e que em 1524 foi nomeado escrivão da câmara, fossem a mesma pessoa. Bernardim pertenceu à roda dos poetas palacianos juntamente com Sá Miranda, Gil Vicente e outros.
Esteve algum tempo na Itália, onde tomou conhecimento inovações literárias. Foi o introdutor do bucolismo (uma espécie de poesia pastoral, que descreve a qualidade ou o carácter dos costumes rurais, exaltando as belezas da vida campestre e da natureza) em Portugal e, possivelmente, um dos primeiros a escrever em sextina. Tão misterioso quanto o nascimento é a morte do escritor. Alguns autores datam-na como 1552. Porém, pela leitura da écloga Basto, de Sá de Miranda e escrita antes de 1544, verificamos que este autor se refere ao seu "bom Ribeiro amigo" como já falecido.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Memória ao Conservatório Real de Almeida Garrett

Na Memória ao Conservatório Real, lida quando ofereceu o "Frei Luís de Sousa" à prestimosa instituição, afirma Garrett que a peça capaz de entusiasmar o homem moderno é o drama romântico. Expõe esse acerto comentando a peça que leva na mão. Almeida Garrett não quis fazer uma trágedia e, continua a expor o dramaturgo que não lhe deu o nome de tragédia, porque:
- o assunto não é antigo;
- não quis usar o verso;
- utilizou a prosa, pois mal parecia não colocar prosa na boca do melhor prosador português.
Garret conta que a história de Frei Luís de Sousa tem a mesma simplicidade de uma fábula trágica antiga. Na história do Frei Luís de Sousa, há simplicidade trágica, mas há, também, o espírito do Cristianismo que suaviza o desespero das personagens: em vez de uma morte violenta, “morrem para o mundo”, entregam-se a Deus. As personagens da pbra podem ser comparadas a personagens mitológicas evidenciando, contudo, a sua superioridade.
É uma acção muito “simples”, sem paixões violentas: poucas personagens, todas elas genuinamente cristãs , sem um “vilão”, sem assassínios, sem “sangue”. Sem estes “ingredientes”macabros, tão usados na época para captar o interesse das plateias, Garrett quis verificar se era possível despertar, nesse público ávido de emoções fortes, os dois sentimentos únicos de uma tragédia: o terror e a piedade.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Análise do discurso: "I have a dream"

A complexidade da linguagem humana não se reduz às regras lógicas, pois o discurso pode ser analisado segundo diferentes perspectivas. Na minha perspectiva a América é um país bastante racista. Onde a raça negra não é aceite, onde é considerada uma classe fraca. Martin Luther King, discursou perante toda a humanidade sobre o seu sonho. O sonho dele seria sempre um sonho, acho que não era um desvaneio temporário. Se vivesse, hoje ainda, teria esse sonho. Muito pouco, ou quase nada, aconteceu do sonho desse homem tão importante para a humanidade!
Martin Luther King no seu discurso recorre a um discurso claro, mas onde a sua tese (luta pelo igualdade racial) é bastante explicita. Martin Luther King recorre à emotividade, à imaginação e ao conhecimento para dar vida ao seu discurso. Recorre a figuras de estilo, tais como a apóstrofe e a metáfora. Apelando-se ao real e pondo uma perspectiva futurista.

sábado, 29 de novembro de 2008

" I have a dream "

Discurso proferido no dia 28 de Agosto de 1963, aquando da Marcha Nacional sobre Washington em que participaram cerca de 250000 pessoas e que foi considerada a mais importante e a mais significativa marcha pela liberdade e pela justiça nos Estados Unidos. Dessa marcha, irão resultar a nova lei dos Direitos Civis (1964) e a Lei dos Direitos de Voto (1965).

" Sinto-me feliz por estar hoje aqui convosco naquela que irá ficar na história da nossa nação como a maior manifestação pela liberdade. Há um século, um grande Americano, a cuja sombra simbólica nos acolhemos hoje, assinou a Proclamação de Emancipação. Essa proclamação de extraordinária importância foi como um grande farol que veio iluminar a esperança de milhões de escravos negros, que ardiam nas chamas da asfixiante injustiça. (…)

Mas há uma coisa que eu posso dizer ao meu povo, que se mantém firme no limiar acolhedor de acessos ao palácio da justiça: no processo de conquista do lugar a que temos direito, importa que não cometamos actos condenáveis. Não podemos saciar a nossa sede de liberdade bebendo do cálice da acrimónia e do ódio. Temos de travar e nossa batalha mantendo-nos sempre num plano elevado de dignidade e disciplina. Não podemos consentir que o nosso protesto criativo degenere em violência física. Sistematicamente, temos de nos erguer à altura majestosa da resposta à força física pela força anímica. (…)

Não nos deixemos afundar no vale do desespero. Digo-vos hoje, meus amigos: mesmo que tenhamos de enfrentar as dificuldades de hoje e de amanhã, eu ainda tenho um sonho. Um sonho que mergulha profundamente as suas raízes no sonho americano.

Tenho um sonho de que um dia esta nação se irá erguer e viver o significado autêntico do seu credo – temos por verdades evidentes que todos os homens foram criados iguais.

Tenho um sonho de que um dia nas vermelhas encostas da Geórgia os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos donos de escravos conseguirão sentar-se juntos à mesa da fraternidade.

Tenho um sonho de que até o Estado do Mississípi, um Estado asfixiado pelo calor da injustiça, asfixiado pelo calor da opressão, se irá transformar num oásis de liberdade e justiça.

Tenho um sonho de que os meus quatro filhos pequenos irão um dia viver num país em que não serão julgados pela cor da sua pele mas sim pelo conteúdo do seu carácter.

Eu hoje tenho um sonho!

Tenho um sonho de que um dia, no longínquo Alabama, com os seus tenebrosos racistas, com o seu governador de cujos lábios brotam palavras de interposição e de aniquilação, um dia, precisamente no Alabama, os meninos pretos e as meninas pretas irão poder dar irmãmente as mãos os meninos brancos e às meninas brancas.

Eu tenho um sonho!

Tenho um sonho de que um dia todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro serão abatidos: e o que está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. (…)

É a nossa esperança. É esta a fé que eu vou levar comigo no meu regresso ao Sul. (…)