domingo, 21 de setembro de 2008

Composição.

O pesadelo de Matilde.

(…)

A noite caía, a lua irradiava as suas caras e via-se um sorriso verdadeiro na cara da Matilde. No quarto, Matilde talvez dormisse calmamente e a sua mãe, provavelmente, começou também a fechar os olhos. O sono devia percorrer-lhe o corpo e deve ter adormecido.
- Socorro, mãe. Vem cá!
- O que foi, querida? Estás bem? Estás toda transpirada e a tremer. Calma.
- Abraça-me mãe.
- O que se passou, Matilde?
- Tive um pesadelo, mãe. Um pesadelo horrível, mas não quero falar disso.
- Oh minha querida, já passou. Agora dorme. Estou aqui contigo.
Matilde era uma criança reservada, mas normalmente calma. Mal o sol nasceu, Matilde saltou da cama. Vestiu-se rapidamente e caminhou em direcção à escola. Quando chegou à escola, correu para os meus braços.
- Bruna, tive um pesadelo horrível.
- Conta-me Matilde. O que se passou? – Pedi eu com ansiedade.
- Não percebi bem. Estava tudo cheio de sangue à minha volta. Não via ninguém. O medo subia-me pelo corpo e escondi-me por baixo da minha cama. Via as aranhas, as baratas e os ratos acompanharem-me. Era um nojo, Bruna. Só pó. Mas fiquei ali, imóvel como se eu mesma estivesse morta. A minha cabeça girava, como um furacão. Onde estaria a minha mãe e a minha irmã? Só pensava nisso. Mas não descobria a resposta. Tive tanto medo de perde-las, tanto.
- Tu sabes que todos nós temos que partir. Mas, não tens que estar sempre a pensar nisso e ter medo. Se viveres sempre com esse medo a perseguir-te, não vais conseguir viver a tua vida. Se pensares que cada vez que feches os olhos isso vai acontecer, então vais ficar paranóica.

(…)

Matilde, viveu sempre neste medo. Este medo invadiu todos os seus dias. Não aguentou viver, dois anos, nesta angustia e preferiu suicidar-se. Matilde morre com 20 anos.

sábado, 20 de setembro de 2008

Biografia: Miguel Torga



Miguel Torga




Adolfo Correia da Rocha, que será conhecido por Miguel Torga, nasce em 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes. Filho de gente do campo, não mais se desliga das origens, da família, do meio rural e da natureza que o circunda. Mesmo quando não referidos, estão sempre presentes o Pai, a Mãe, o professor primário Sr. Botelho, as fragas, as serranias, a magreza da terra, o suor para dela arrancar o pão, os próprios monumentos megalíticos em que a região é pródiga. Entra no Seminário, donde sai pouco depois.
Emigra para o Brasil em 1920. Trabalha na fazenda do tio, é a dureza da "capinagem" do café. O tio apercebe-se das suas qualidades. Paga-lhe ingresso e estudos no liceu de Leopoldina, onde os professores notam as suas capacidades.
Regressa a Portugal em 1925. Entra da Faculdade de Medicina de Coimbra. Participa moderadamente na boémia coimbrã. Ainda estudante publica os seus primeiros livros. Com ajuda financeira do tio brasileiro conclui a formatura em 1933.
A família é um dos pontos fulcrais da sua vida. O pai, com quem a comunicação se faz quase sem necessidade de palavras, é um dos fortes esteios da sua ternura, amor e respeito. Cortei o cabelo ao meu pai e fiz-lhe a barba. (...) Foi sempre bonito, o velhote... Recorda os braços do pai pegando pela primeira vez na neta, recém nascida. O mesmo amor em poemas dedicados à mãe. Por sua mulher e filha um afecto profundo, também.
Viajante incansável por todo o país e estrangeiro. Visita a China e a Índia já próximo dos oitenta anos. Pareço um doido a correr esta pátria e nem chego a saber por quê tanta peregrinação. Os monumentos entusiasmam-no. Os Jerónimos, a Batalha e Alcobaça têm sentido na Alma da nação. Mafra é uma estupidez que justifica uma punição aos reis douro que fizeram construir o convento. Os monumentos paleolíticos fascinam-no. Sou uma encruzilhada de duas naturezas. De variadíssimas, dirá quem bem o conhece...
Morre em 17 de Janeiro de 1995. Enterrado em S. Martinho da Anta, junto dos pais e irmã.


Algumas obras: Pão Ázimo, 1931; A Terceira Voz, 1934; Bichos, 1940; O Senhor Ventura, 1943; Um Reino Maravilhoso, 1941;Trás-os-Montes, 1941; Vindima, 1945; Traço de União, 1955; Fogo Preso, 1976; Mar, 1941; O Paraíso, 1949; Sinfonia, 1947; Antologia Poética, 1981.

Biografia: Gil Vicente


Gil Vicente


Pouco se sabe sobre a vida de Gil Vicente. Pensa-se que terá nascido por volta de 1465, em Guimarães ou algures na Beira. Duas vezes casado, teve cinco filhos, dos quais os mais conhecidos são Paula Vicente, que deixou fama de uma mulher invulgarmente culta, e Luís Vicente, que organizou a primeira Compilação das obras de seu pai.
No início do século XVI encontramo-lo na corte, participando nos torneios poéticos que Garcia de Resende
documentou no seu Cancioneiro Geral.
Em documentos da época há referência a um Gil Vicente, ourives, a quem é atribuída a famosa Custódia de Belém (1506), obra-prima da ourivesaria portuguesa do século XVI, e a um Gil Vicente que foi "mestre da balança" da Casa da Moeda. Alguns autores defendem que o dramaturgo, o ourives e o mestre de balança seriam a mesma pessoa, mas até hoje não foi possível provar isso de forma incontestável, embora a identificação do dramaturgo com o ourives seja mais credível, dada a abundância de termos técnicos de ourivesaria nos seus autos.

Algumas obras: Auto da Visitação (1502), Auto Pastoril Castelhano (1502), Auto da Índia (1509), Auto das Fadas (1511), O Velho da Horta (1512), Comédia do Viúvo (1514), Auto da Barca do Inferno (1517), Auto Pastoril Português (1523), Nau d'Amores (1527), Floresta de Enganos (1536).

Biografia: Alves Redol


Alves Redol

Escritor português, natural de Vila Franca de Xira, foi uma figura central do Neo-Realismo português, sendo autor de uma vasta obra ficcional, que inclui o teatro e o conto.
A sua origem humilde não lhe permitiu prosseguir os estudos, obrigando-o a empregar-se muito cedo para ganhar a sua subsistência; por isso, aos dezasseis anos, partiu para Luanda, mas regressou à Metrópole em 1930, começando então a colaborar na imprensa.

Romancista, contista e dramaturgo, a sua obra sofre influências do romance brasileiro nordestino, tendo-se estreado em 1940, com Gaibéus, obra que marca oficialmente o aparecimento do Neo-Realismo português, movimento de que Alves Redol foi um dos iniciadores e em cuja defesa se lançou, em 1936, numa acesa polémica contra a revista Presença.

O carácter meramente documental e de intervenção político – sociológica da obra deste autor dará lugar mais tarde a romances mais elaborados e o nível da linguagem e da analise psicológica, atingindo o seu melhor com Barranco de Cegos. De entre a sua obra destacam-se, ainda, Horizonte Cerrado (Prémio Ricardo Malheiros), Fanga, a trilogia do Ciclo Port-Wine, o Comboio das Seis, A Vida Mágica da Sementinha e Constantino, Guardador da Vacas e de Sonhos.