terça-feira, 14 de outubro de 2008

Mito de Bandarra


António Gonçalves Annes Bandarra, mais conhecido por Bandarra. Nasceu em 1500 e morreu em 1556, em Trancoso. Profeta, poeta e sapateiro de Trancoso. É uma figura histórica do distrito da Guarda. Era sapateiro e dedicou-se à divulgação em verso de profecias de cariz messiânico. Tinha um bom conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento, do qual fazia as suas próprias interpretações. Por causa disso, foi acusado pela Inquisição de judaísmo e as suas trovas foram incluídas no Catálogo de Livros Proibidos, já que suscitaram interesse sobretudo entre cristãos-novos. Foi inquirido perante este tribunal, sendo ilibado, mas foi obrigado a participar na procissão do auto-de-fé de 1541 e também a nunca mais interpretar a Bíblia ou escrever sobre assuntos da Teologia.
A sua obra chamou-se "Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias de Bandarra" e foi editado por D. João de Castro. A obra foi interpretada como uma profecia, ao regresso do Rei D. Sebastião após o seu desaparecimento na Batalha de Alcácer-Quibir, em Agosto de 1578. Em 1815 é editada uma nova edição com o título: "Trovas Inéditas do Bandarra". Entre 1822 e 1823, saí mais uma edição com o título: "Verdade e Complemento das Profecias". As Trovas do Bandarra influenciaram o pensamento sebastianista e messiânico de Padre António Vieira e de Fernando Pessoa, e influenciaram inúmeras obras literárias e ensaísticas.
São três os pontos da profética de Bandarra: o Quinto Império, a ida e regresso de el-rei D. Sebastião e os destinos de Portugal. O primeiro ponto, preocupa-o em comum com toda a profética europeia, e, em certo modo, a hebraica. O segundo ponto, preocupa-se com outros profetas, estranhos à nossa nação. No terceiro ponto, das suas Trovas Bandarra preocupa-se em desvendar misteriosamente grandes movimentos das nações, culminância da civilização. De todos os “corpos” de que se compõem as profecias de Bandarra, é este o mais ordenadamente disposto, em os seus seis sonhos e a introdução que os abre. É de salientar que nos outros corpos das trovas Bandarra se ocupa de factos presos, concretos, de importância para o país, não sendo porém os de maior importância.
“Bandarra foi verdadeiro profeta, pois profetizou e escreveu tantos anos antes, tantas cousas, tão exactas, tão miúdas e tão particulares, que vemos todos cumpridas com os nossos olhos”.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Fernando Pessoa, no mundo da publicidade.

Ao fim de tantos anos de vida e de sucessos, Fernando Pessoa ainda não se sentia totalmente satisfeito consigo mesmo. Então, decide fazer uma incursão pelo mundo publicitário. Fernando Pessoa entra no mundo da publicidade com o slogan da Coca-Cola "Primeiro estranha-se, depois entranha-se", em 1928. (na época foi proíbido, mas foi recuperado muitas décadas depois).
Para Fernando Pessoa, a argumentação na publicidade não deve ser desprovida de elegância, contornando assim a ideia de texto publicitário. Para reforçar ainda mais o seu papel na publicidade em Portugal, admite-se que foi Fernando Pessoa que enunciou o conceito de “marketing”, desconhecido na altura.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Slogans de Fernando Pessoa.

"Primeiro estranha-se. Depois entranha-se"

Fernando Pessoa, 1928, para a Coca-cola.
"Uma cinta Pompadour veste bem e ajuda sempre a vestir bem."
Fernando Pessoa.
"Seja qual for a linha da moda na Toilette feminina é sempre indispensável uma cinta Pompadour."
Fernando Pessoa.
"Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra"
(Álvaro de Campos), Fernando Pessoa.

"Eu explico como foi (disse o homem triste que estava com uma cara alegre), eu explico como foi...Quando tenho um automóvel, limpo-o. Limpo-o por diversas razões: para me divertir, para fazer exercícios, para ele não ficar sujo. O ano passado comprei um carro muito azul. Também limpava esse carro. Mas, cada vez que o limpava, ele teimava em se ir embora. O azul ia empalidecendo e eu e a camurça é que ficavam azuis. Não riam... A camurça ficava realmente azul: o meu carro ia passando para a camurça. Afinal, pensei, não estou limpando este carro: estou-o desfazendo.Antes de acabar um ano, o meu carro estava metal puro: não era um carro, era uma anemia. O azul tinha passado para a camurça. Mas eu não achava graça a essa transfusão de sangue azul.Vi que tinha que pintar o carro de novo. Foi então que decidi orientar-me um pouco sobre esta questão dos esmaltes. Um carro pode ser muito bonito, mas, se o esmalte com que está pintado tiver tendência para a emigração, o carro poderá servir, mas a pintura é que não serve. A pintura deve estar pegada, como o cabelo, e não sujeita a uma liberdade repentina, como um chinó. Ora o meu carro tinha um esmalte chinó, que saía quando se empurrava. Pensei eu: quem será o amigo mais apto a servir-me de empenho para um esmalte respeitável? Lembrei-me que deveria ser o Bastos, lavadeira de automóveis com uma Caneças de duas portas nas Avenidas Novas. Ele passa a vida a esfregar automóveis, e deve portanto saber o que vale a pena esfregar. Procurei-o e disse-lhe:
- Bastos amigo, quero pintar o meu carro de gente. Quero pintá-lo com um esmalte que fique lá, com um esmalte fiel e indivorciável. Com que esmalte é que o hei-de pintar?
- Com BERRY/LOID - respondeu o Bastos.
E só uma criatura muito ignorante é que tem a necessidade de me vir aqui maçar com uma pergunta a que responderia do mesmo modo o primeiro chauffeur que soubesse a diferença entre um automóvel e uma lata de sardinhas."
(Publicidade das tintas Berry/Loid)

"Os nossos olhos são diferentes todos os dias"

Os olhos definem cada pessoa. A cor, o tamanho, a forma pouco importa. O Importante é a intensidade de um olhar e o que estes olhos sentem.
Todos os dias, quando acordamos, vemos o mundo de maneira diferente. Muitas vezes, reparamos naqueles pormenores que marcam a diferença, mas que ninguém quer ver.
A nossa experiência de vida, a nossa personalidade, o nosso conhecimento e a nossa energia torna diferente, todos os dias, os nossos olhos. A tristeza e o amor, por vezes, também os cegam. "O que os olhos não veêm, o coração não sente", uma frase bem popular que corre e boca em boca. Mas quantos de vós param, sentam-se e reflectem sobre ela? Quantos de vós, fecham os olhos aos problemas para não se deixarem levar pelo coração?
Agora eu digo-vos, sentem-se e reflectiam! Olhem, mas com olhos de ver, tudo o que vos rodeia. Olhem para os vossos problemas, olhem para as vossas vidas, olhem para além do que veêm.
Um olhar, será que é um simples olhar? Não! Um olhar consegue definir uma pessoa, um olhar fala! Tráz sentimentos consigo. Olhem para a pessoa que têm ao vosso lado, mas olhem todos os dias, será que ela é sempre igual?
A verdade é que é diferente todos os dias. Confesse-vos, a pessoa que está ao meu lado, tem cinco olhares. Um quando demonstra indiferença, outro quando chora, outro quando ama alguém, um quando sorri e outro quando se enerva. Todos estes olhares são diferentes.
Agora tu, pára! Abre os olhos e olha em teu redor. Sente a diferença. Sente a vibração, pureza e a clareza de um olhar. É verdade, nem todo o olhar é puro. Mas sintam, toquem, mostrem esse vosso olhar, não fechem os olhos porque o mundo é belo. Mas se querem tanto fechar, fechem! Mas sonha, porque a imaginação leva esses teus olhos para outra dimensão. Quando acordares e saíres desse mundo virtual, olha para além do que vês. Passa essa barreira do transcendente.
Sente cada olhar sentido. Sente, que este olhar mudo, fala! Não vejas, olha.

Bruna Matias .